A cada medida tomada, a
cada ideia proposta, a cada uso da palavra adensa-se a dúvida: a política de
saúde deste governo ultra-troikista, procura a racionalização dos cuidados
prestados pelo Serviço Nacional de Saúde ou antes o seu racionamento? Custe o
que custar, não importa como. Sejamos hercúleos em vez de piegas, saibamos
ouvir o triste fado como oportunidade para cantarmos alegremente a vontade dos
mercados. Lida a sentença de um crime que não conhecemos, cumprimos a pena docilmente
e apertemos o cilício. Em nome de uma austeridade sem fim, fatalista e punitiva,
todos os meios necessários são justificáveis para assegurar uma
sustentabilidade (?) imediata.
Para este esboço de
direita social-democrata e cristã, o papel pretendido para SNS afigura-se caritativo
em vez de solidário. Caminhamos para um SNS mínimo, para um mínimo de cidadãos?
Um SNS cada vez mais orientado para menos cidadãos, adequado para os
desfavorecidos, nivelado por baixo, demasiado “pesado” para um serviço privado
ainda discreto? Uma receita simples e eficaz para a doença da sustentabilidade:
um SNS desnatado e emagrecido servirá adequadamente os mais pobres e desfavorecidos,
enquanto aqueles com mais recursos facilmente poderão recorrer à excelência e
requinte dos serviços privados.
Aplicada esta fórmula, a tormenta desaguará num
país divido em dois sistemas, separados pela “terra de ninguém” - a classe
média. Assim, de forma a recorrer a cuidados de saúde a grande maioria da
população oscilaria alegremente entre níveis de sustentabilidade e
insustentabilidade financeira, dependendo da complexidade dos cuidados exigidos.
A título de exemplo, o tratamento de doenças graves ou crónicas seria
impossível de sustentar pelo próprio doente com um nível médio de rendimentos. No
entanto, a exclusão, ou pelo menos a limitação ao acesso a cuidados de saúde, contradiz
os valores fundamentais que regem o SNS. Este constitui um dos êxitos mais
marcantes do nosso regime democrático e constitucional, conseguindo em cerca de
trinta anos transformar radicalmente o panorama sanitário do país. O SNS tal
como o conhecemos define-se como um contrato social, baseando-se nos valores da
solidariedade, previdência e inclusão. Todos os cidadãos são incluídos neste
contrato independentemente da sua condição física, económica ou social.
O carácter universal e
inclusivo do SNS representa um dos mais importantes factores de coesão social
na nossa sociedade, pelo que urge defender os valores democráticos conquistados
e que hoje são postos em causa nestes momentos de crise. Agora e mais do que
nunca!
Pedro Fins Pereira
Adjunto do Secretariado da JS Santarém
Adjunto do Secretariado da JS Santarém
Eleito à Comissão Política Federativa da JS Ribatejo
Sem comentários:
Enviar um comentário